Estima-se que Mato Grosso abrigue cerca 3,5 mil haitianos, conforme dados apresentados pelo Instituto de Migrações e Direitos Humanos. Entre eles, está Sadraque Bon, de 31 anos, que deixou seu país após perder tudo que mais importava na sua vida: além da casa e o terreno onde trabalhava, perdeu também o pai, que morreu de ataque cardíaco durante o forte terremoto que assolou o país.
O tremor de terras fez com que, em apenas 35 segundos, toda a nação fosse destruída. Segundo a ONU, a catástrofe deixou mais de 200 mil mortos, inutilizando cerca de 300 mil prédios, incluindo quase todas as instituições de governo.
A exemplo de tantos outros compatriotas, Sadraque veio para o Brasil na esperança de enviar dinheiro para sustentar a esposa e o filho, de apenas dois anos, que ficaram no Haiti. Deixou a cidade de Jacmel, a 93,5 km da capital Porto Príncipe, e percorreu o trajeto mais utilizado por seus compatriotas: cruzou a fronteira com a República Dominicana e de lá foi para o Panamá, de onde seguiu viagem até o Brasil, via Equador e Peru. Então cruzou a fronteira pela cidade de Brasileia, no Acre.
Lá, foi atraído pelas notícias de que Cuiabá, uma das cidades sedes da Copa de 2014, vivia um boom na construção civil. No entanto, Sadraque explica que a falta de fluência no português sempre o atrapalhou na hora de conseguir um emprego, dificuldade também enfrentada pelo conterrâneo Emmanuel Germains, há três meses em Cuiabá. Falando apenas algumas palavras em português, reclama que vê venezuelanos conseguindo trabalho enquanto ele permanece à espera.
Imigrações
Em menos de 10 anos, Mato Grosso recebeu duas ondas migratórias provocadas por crises econômicas, políticas e sociais. Em 2010, após um terremoto de grandes proporções, foi do Haiti que saíram centenas de pessoas.Em Mato Grosso, acabaram trabalhando principalmente na área da construção civil, movimentada pelos preparativos para a Copa do Mundo de 2014, cuja capital do estado era uma das sedes.
Já em 2018, os venezuelanos chegam fugindo da fome no país natal, que hoje enfrenta uma inflação desenfreada, falta de empregos, alimentos, além de itens de higiene pessoal e remédios.
Conforme a coordenadora da Pastoral do Migrante, Eliana Aparecida Vitalino, haitianos e venezuelanos têm características diferentes, mas ambos enfrentam problemas na hora de conseguir emprego. “Os haitianos, em geral, têm mais dificuldades na comunicação e preferem trabalhos em empresas e na construção civil. Já os venezuelanos, em regra, são mais comunicativos, têm mais facilidade com o idioma, e sabem trabalhar no campo, fazendas ou como caseiros”, explicou
*O texto faz parte da reportagem O Sonho Brasileiro, edição do Janela TRT que aborda a situação dos imigrantes que chegam ao Brasil fugindo da fome e da grave crise social que enfrentam países como Venezuela e Haiti. A busca de emprego, assim como os direitos trabalhistas de estrangeiros, também são abordados na reportagem.