Sozinho, sem família e sem conseguir se comunicar em português, o pedreiro haitiano Clenor Fevry procurou a Justiça do Trabalho, em julho de 2015, para conseguir receber seus direitos.
Dificuldades como a falta de intérprete de francês e a impossibilidade de pagamento imediato de suas verbas trabalhistas foram superadas com a solidariedade de uma servidora do Tribunal e de um advogado. Ela fez a tradução da audiência e ele, mesmo sem nenhuma relação com o processo, pagou ao trabalhador, em parcela única, os valores do acordo.
Durante a audiência, ficaram evidentes as condições precárias nas quais o haitiano vivia no Brasil. Ele já estava com o fornecimento de água cortado e com as contas de luz e o aluguel atrasados. Sem ninguém em um país desconhecido, buscava resolver essas pendências para voltar ao Haiti, para onde sua mulher e filho já haviam retornado.
Clenor tinha sido contratado como pedreiro no dia 1º de maio de 2015 e, passado um mês, foi demitido sem justa causa, mesmo sem haver terminado seu contrato de experiência. A empresa não lhe pagara o salário referente ao tempo trabalhado, nem a multa por ter encerrado seu contrato de trabalho de forma antecipada.
A falta de um intérprete de francês poderia ter prolongado o sofrimento dele, entretanto, com a ajuda para a tradução de uma servidora da área administrativa do Tribunal, formada em Letras com habilitação em Francês, a comunicação foi garantida durante a audiência e um acordo entre as partes foi fechado.
Os valores devidos ao trabalhador foram fixados em cerca de três salários mínimos, mas a empresa pediu um prazo para fazer o pagamento.
A situação sub-humana vivida pelo haitiano comoveu um advogado, que não tinha relação com o processo e que assistia a audiência enquanto aguardava o horário de sua, que seria realizada em seguida. Então, disposto a ajudar, o advogado foi à agência bancária que funcionava no mesmo prédio das varas e sacou o valor total do acordo a fim de pagar o trabalhador, assumindo os riscos e as incertezas de reaver esses valores, a serem pagos pela empresa.
O advogado contou que se emocionou ao descobrir que o trabalhador haitiano já estava com a passagem comprada para o país de origem e só precisava receber o dinheiro para poder reencontrar a família: “Ele estava com o acordo fechado, não tinha conta bancária e o impasse para o pagamento estava se estendendo. Assim como ele também tenho uma filha menor. Me comovi e fiquei muito feliz em ajudar".
A crônica acima é uma homenagem ao dia do advogado, celebrado no dia 11 de agosto. O texto faz parte da obra Foi Assim... vidas, olhares e personagens por trás dos processos trabalhistas em Mato Grosso, publicada em homenagem aos 25 anos de TRT/MT. As histórias do livro são divulgadas semanalmente nos canais de comunicação do judiciário trabalhista do estado.